por: Murilo Carneiro
O movimento era intenso na Fazenda Bananeiras, em meados do século 19: engenho de cana para a fabricação de rapadura e cachaça; plantio de milho, arroz e feijão; criação de bovinos e cavalos, predominavam na lida diária dessa fazenda, situada às margens do Rio Piranga, distrito de Calambau, pertencente ao município de Piranga.
Muitos escravos trabalhavam na fazenda: os homens nas lavouras e as mulheres nos afazeres domésticos e na criação dos filhos que, futuramente, substituiriam os escravos mais velhos.
Os donos da fazenda, oriundos de tradicionais famílias da região, compunham um seleto grupo de grandes proprietários de terras. A fazenda era palco de grandes festas de casamentos, batizados, aniversários e recepção de visitas importantes. Sua grande sala era local propício para realização de animados saraus, com participação de músicos de Piranga, Mariana, Ouro Preto, Calambau e Porto Seguro (hoje Porto Firme).
O dono da fazenda andava, há muito tempo, observando uma jovem escrava de nome Joana que era era muito bonita e chamava a atenção de todos. Logo iniciou-se um romance entre os dois.
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Na foto acima vemos um morador local e o Murilo. Eles estão ao lado da entrada da gruta, quase totalmente destruída. (Clique na imagem para ampliar) |
Tudo corria, normalmente, até que Joana ficou esperando um filho do Coronel, dono da fazenda. A esposa do Coronel, que já desconfiava do que estava acontecendo, fez com que a escrava Joana confessasse o seu romance com o Coronel e, em seguida, a expulsou da fazenda.
O fazendeiro, habilmente, com o auxilio de outros escravos, providenciou para que Joana fosse morar em uma gruta de pedras, do outro lado do rio Piranga, nas imediações das zonas rurais do Café, Retiro e Seringa. Na construção da gruta foram retirados grandes blocos de pedras que, mais tarde, foram transformados nos muros da fazenda Bananeiras e na grande mesa de pedra que lá, ainda, existe.
Para a dona da fazenda, a escrava havia sido mandada para bem longe.
Joana, morando na gruta, teve seu primeiro filho e recebia, do fazendeiro, o necessário para viver tranquilamente. Tudo corria no mais absoluto sigilo por parte dos escravos e escravas que acobertavam o acontecimento.
A escrava Joana teve mais três filhos com o fazendeiro, todos nascidos e criados na gruta.
Este fato nos foi relatado por pessoas antigas que, também, o ouviram de seus antepassados.
Essa é uma história real ou trata-se de uma lenda?
Os fatos concretos são:- a existência dos muros e da grande mesa feitos de pedras retiradas da gruta e que, ainda, se encontram na fazenda.
Visitamos o local da gruta em companhia do tio Ninico Carneiro e do cunhado Geraldo Maciel, há uns vinte anos. Na oportunidade, constatamos que existe apenas um vestígio da mesma, pois um desmoronamento de pedras e terras cobriram a sua entrada e seu interior.
Dá para ver, também, marcas deixadas pelas pedras que foram transportadas para a fazenda.
Da margem do rio até a entrada da gruta, há vestígios de uma escada que teria sido utilizada pela escrava Joana para acesso à água do rio.
Existiram muitas Joanas, no Brasil: escravas, que não tiveram a sorte da escrava da fazenda Bananeiras. Foram abandonadas e entregues à sua própria sorte ...