por: Murilo Carneiro
Em 1940, com a fundação da União Sportiva Educacional - U.S.E., o seu primeiro presidente, Sr. Geraldino Henriques, além de organizar o time de futebol e, cumprindo o que determinava os estatutos da entidade, criou também a equipe teatral.
A data escolhida para a primeira apresentação foi o dia 20 de janeiro de 1941. A peça a ser apresentada seria o drama “Triunfo da Cruz”. Para o elenco foram escolhidos os calambauenses José Maria Peixoto (Zizinho Peixoto, piranguense, radicado em Calambau) que interpretava um Imperador Romano, Antônio Diogo, Matias de Moura, João de Moura, Gilson Henriques, Sérvulo Fernandes e outros.
A empolgação entre os artistas era total, pois seria a primeira participação deles em um evento cultural promovido pela U.S.E. Um dos mais animados era o jovem Zizinho Peixoto que estava iniciando o namoro com a jovem Nininha (Ana). A namorada já havia lhe dito que assistiria à peça em companhia de suas irmãs e seus pais, Sr. Zé Maria e Dona Sinhá, donos da fazenda Seringa.
Após vários dias de ensaios, chegou o dia da apresentação. Na vila, não se comentava outra coisa. Todos aguardavam com ansiedade esse evento.
O início do espetáculo estava programado para as vinte horas e deveria ter a duração aproximada de duas horas.
Lá pelas quinze horas, alguns atores, dentre eles o Zizinho, foram para a venda do Benígno onde fritaram linguiças e começaram a bebericar umas e outras. O tempo foi passando e eles, entretidos como os comentários sobre como seria a apresentação, não perceberam que se aproximava a hora do teatro. Zizinho, o mais animado, dizia como deveria apresentar-se no palco, vendo a namorada em companhia dos sogros.
Quando deram fé, já estava quase na hora da apresentação. Foi a conta de irem para casa se arrumarem.
Os artistas foram para os bastidores para as últimas providências. O Zizinho, que não estava nada bom, ainda teve tempo de dar uma olhada pela fresta da cortina e ver a namorada assentada logo ali, no banco da frente. Foi aí que ele caiu na real e sentiu que não ia dar para apresentar, pois não se sentia bem. Chamou o diretor Geraldino Henriques e disse-lhe:- Geraldino, eu não tenho condições de trabalhar, pois não estou me sentindo bem.
O Geraldino, com muita firmeza, olhou para ele e disse: - Tudo bem, vou para o palco avisar a platéia que não apresentaremos o espetáculo porque o artista principal tomou umas e outras e não tem condições de se apresentar...
O Zizinho pensou: de que forma iria se justificar com a namorada? E os sogros, o que pensariam dele? Criou coragem e partiu para a luta...
Fez uma estupenda apresentação! A cena final, quando o imperador aparece todo ensanguentado, após a vitória na guerra, gritando uma mensagem para os seus súditos, foi tão real que o ator, emocionado, foi aplaudido de pé pela platéia.
No dia seguinte, ao encontrar-se com a namorada ela lhe deu os parabéns, e disse-lhe, muito alegre, que o seu pai Zé Maria havia comentado: - É, o Zizinho trabalhou muito bem!
Na vila, o comentário era geral: - Foi o Triunfo da Cruz e o Triunfo do Artista!
Assim como a peça teatral, o namoro do Zizinho com a tia Nininha teve um final feliz: casaram-se e tiveram muitos filhos.
