Lembranças da Velha Garapa

Heitor Lins Peixoto escreveu:

Lembranças da Velha Garapa

Ao ler a excelente crônica do Murilo: A Velha Garapa, uma frondosa e centenária árvore situada à margem direita da estrada sentido Piranga - Calambau, lembrei-me do caso do Zé Marinho, “empreiteiro” do meu pai, que morava no trecho da estrada Fazenda Baía - Calambau, próximo da bela árvore e vinha sempre a pé para trabalhar no quintal de nossa casa e na plantação de café e mandioca que tínhamos próxima à cidade.
Certa dia, chovia muito e o Zé Marinho, como de costume, saiu de casa cedo para pegar serviço em Calambau. Caminhando rápido em direção à cidade ele teve que dar uma parada embaixo da Garapa para se proteger da chuva que havia apertado. De repente passou um caminhão de leite e ele fez sinal pedindo carona. O motorista parou e perguntou-lhe: pra onde tá indo? O Zé Marinho respondeu que ia para Calambau trabalhar na casa do Sr. Zizinho Peixoto, mas aí, recebeu um sonoro não: infelizmente estou indo para Presidente Bernardes e deixou o Zé tomando chuva debaixo da Garapa. 

Mas, para sua sorte, veio logo outro caminhão e novamente ele pediu carona: mais uma vez o motorista perguntou-lhe para onde ele queria ir e o Zé, mais que depressa disse que queria ir para Presidente Bernardes: aí, novamente, recebeu uma negativa, desculpe senhor, estamos indo para Calambau... A chuva continuava forte e o Zé, já desistindo, viu aproximarse um caminhão maior e mais novo que os anteriores e com várias pessoas na carroceria coberta por uma lona, era o caminhão do Sô Zé Carneiro, próspero fazendeiro da região, que parou e naturalmente indagou ao Zé: para onde o amigo está indo? O Zé, espertamente, respondeu: estou indo para esta bonita cidade aí na frente... Ganhou a carona!