#CoisasDeCalambau
por: Murilo Carneiro
"Seis de outubro de 1932, meia noite, todos já dormiam há horas na pacata cidade de Porto Firme – MG. De repente, começa um bombardeio ensurdecedor, bombas com os mais variados tipos de poder de destruição balançam a cidade. A população inteira pulou da cama assustada, sem entender nada, e começou a confusão e um corre-corre, cada um por si e Deus por todos.
José Santana e Tatão de Deco, de cueca, partiram correndo até “Passa Dez”, aliás, isto é tema de estudos até hoje, pois os dois venceram oito quilômetros em menos de trinta minutos, com baixa visibilidade.
- Estão invadindo Porto Firme – gritou o dentista prático João de Neco Oliveira - o diabo do Sô Tunico não deixou a menina Mariquinha casar com aquele tenente do exército, agora ele veio buscar a menina com o exército inteiro.
Na correria e nos clarões das explosões, Martinho Santana gritava:
- Sai fora gente, o exército americano veio para invadir Porto Firme! Descobriram que na Mina da Lavra, lá perto da “Biquinha”, tem muita raça de ouro, e no areal, perto da “Árvore Grossa” descobriram material radioativo de alto valor.
Bastião Lourenço, na pressa, pega um arreio coloca nas costas e parte para o lado das “Três Cruzes”; quando o arreio se prende numa cerca de arame, grita:
- Me larga tenente, me larga, pode levar a Mariquinha do Sô Tunico.
O Totonho do bode chegou esbaforido para o pai:
- Pai, sangue fede? Acho que estou ferido.
O Sô Tilico do Monjolo, pai de três meninas, vai para a varanda da casa, de gorro e pijama, com uma espingarda de boca larga nas mãos, daquelas tipo emboaba, e berra:
- Quem entrar aqui eu chumbrego fogo, aqui tem nêgo macho!!!
A espingarda tinha sido carregada, no dia anterior, com pedras, cacos de vidro, pregos e uns dois ou três chumbinhos.
Em dia de bombardeio sempre tem saques, e Totinho da Olaria aproveitou para surrupiar o galo de briga do Sô Juquinha Sacristão. Naquela época, toda casa tinha galinheiro, e as galinhas fizeram tanta bagunça que, mesmo naquela confusão, chamou a atenção do Sô Juquinha que correu para o terreiro dando de cara com Totinho e o galo nas costas:
- Que vergonha Totinho, aproveitando essa situação para roubar meu galo!!?
- Que isso Sô Juquinha!?... Ocê tá ficando doido!?... Que galo?
- Ora, este que está aí nas suas costas!!
- Pelo amor de Deus Sô Juquinha tira isto daqui... tira... tira... eu tenho pavor deste bicho, a bicada dele pode até cegar a gente, uai...
Pela manhã, todos correram para ver a cidade destruída e os possíveis prisioneiros, mas só a ponte que liga o lado de lá com o lado de cá, sobre o rio Piranga, tinha sido bombardeada".
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A verdade do fato: Na revolução de 32, o Décimo Batalhão de Cavalaria de Ouro Preto, vinha para destruir um foco de resistência comandado pelo Dr.Barbosa, com sede em Viçosa e Araponga. O grupo do Dr.Barbosa, resolve então, dinamitar a ponte de Porto Firme, para retardar a chegada do batalhão.
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Transcrito da Revista do CPT-Página: Beirada de Fogão
P.S.:Esta ponte era toda de braúna.Muito bem feita e muito bonita.
