Nossos Padeiros e Quitandeiros

#CoisasDeCalambau
por: Murilo Carneiro

Nas décadas de 40/50 (até onde vai a nossa lembrança), aqui em Calambau, como em todas as cidades do interior de Minas já existiam os Padeiros e os Quitandeiros.

O Sô Virgílio cuja especialidade era a famosa queca, fabricava também uns pães doces que eram afamados entre a população. A sua padaria ficava ali na Rua São José,quase em frente ao Ginásio.Era uma pessoa enérgica e de pouca conversa.Certa vez eu (ainda garoto) estava sentado na escada da casa de minha avó Augusta (no local onde é hoje o Ginásio),quando ele ia subindo para a Praça. Vi que as sua botinas pareciam com as do meu pai. Aí eu disse: ”olha a botina de pai!”. Ele parou e gritou:- ”é só seu pai que tem botina?”. Da turma do nosso tempo é a primeira padaria da qual lembramos.

Depois veio a padaria do Geraldo Fernandes, lá no fim da São José (saída para Porto Firme), funcionou por algum tempo fabricando o pão de sal (francês) e o pão doce.

A padaria do Lorico Soares, na qual trabalhavam os seus filhos Arnaldo, Sebastião é Zé Braz, ficava em frente à casa de minha avó e já produzia mais variedades de produtos: os pães doce e de sal, roscas e bolachas.Funcionava também nesta padaria um comércio de “secos e molhados”,que vendia também o famoso produto local, a pinga. Quando aumentava a freguesia, a minha avó fechava a porta e as janelas da casa, pois os palavrões saiam bem altos. Nesta padaria eu gostava de comprar o “pão de quinhentos”, como chamávamos um pão doce que custava quinhentos réis.Como não existia inflação este preço perdurou por muito tempo, daí ter ganho este nome.

Depois o Lorico vendeu a sua padaria para o Vicente Ferreira, e este a transferiu para a sua residência, próxima onde hoje funciona o Sindicato. O seu parente Mário,filho do Zé Donato,em um grande balaio fazia a entrega dos pães nas casas e no comércio local.Também trabalhou nesta padaria o seu filho José Maria, o Sô Nhô.

O Vicente Ferreira, por sua vez vendeu a padaria para o Pedro Fernandes, que veio da zona rural de Santana, em nosso município. Funcionou por pouco tempo.

Por fim veio o Gerson Fernandes, que por um bom tempo teve aqui a sua padaria, produzindo bons produtos. O Gerson depois mudou-se para Piraúba, onde tinha também uma padaria.

A partir daí aumentaram aqui as padarias, surgindo as atuais.

Chamamos de quitandeiros àqueles pequenos comércios que vendiam as suas mais variadas quitandas: broas (de fubá, de amendoim ,melado,etc),rosquinhas,biscoitos de polvilho,bolos,pastéis,etc. Nestes locais eram vendidos também o café, o leite queimadinho(fervido com rapadura), e o café com leite tradicional.Como é de tradição, a pinga também tinha o seu espaço.Eram os famosos botecos.

Dos botecos acima tínhamos: o Antônio Antoninho, o Joaquim Antoninho (na Praça União); o Juca Salomé (na Rua São José, próximo à Praça); o Pedro Monteiro (na Rua São José,onde hoje é o Cartório do Edinho);o Henrique Cachoeira; o Raimundo Caboré (lá no morro dos Bastos).

Dos quitandeiros vale lembrar o famoso boteco “Café Treme Terra” do Chico de Gusta, que ficava ali onde é a pousada Minas Bar, onde o Sr.Francisco e sua esposa Dona Júlia vendiam saborosas quitandas. O seu café com leite e os biscoitos de polvilho eram famosos.

Fica aí o relato de nossos padeiros e quitandeiros, sem nenhuma pretensão de termos relacionado todos do nosso tempo. Relatamos os que tínhamos na lembrança.

É bom lembrar que foram relacionados os que faziam as suas quitandas com fins comerciais. Já as demais donas de casa de Calambau também eram especialistas nesta função, qualidade que as filhas herdaram de suas mães e avós, e que ficou comprovada por ocasião do nosso já tradicional “Festival da Gastronomia”.