Zé Pinheiro

#CoisasDeCalambau
por: Murilo Carneiro

Lembro-me quando o Zé Pinheiro veio para a fazenda Baía, trabalhar com o meu pai. Veio com a família morar em uma casa próxima à fazenda, no início dos anos 50.

O seu primeiro serviço foi de “tacheiro”, operador da tacha de fazer rapaduras. A princípio, meio cismado com ele, afastei-me das regulares idas à tacha, pois aquele homem de cavanhaque não me dava boa impressão Eu tinha entre nove e dez anos e gostava de ver a fabricação da rapadura, pois no engenho tinha, ainda: garapa, rapa, puxa, chico branco (melado batido) e o bom papo com o tacheiro e “engenheiros” ( os que trabalhavam no engenho).

Com o tempo acostumei-me com o Zé Pinheiro, pois tratava-se de uma boa alma, como se dizia antigamente. Frequentava muito a sua casa, pois o seu filho Juquinha tinha a minha idade. Brincávamos com os seus cabritos, gangorras, fazíamos arapucas, gaiolas, bois de sabugo e de chuchu, etc. Uma das coisas que eu me recordo é de um balaio que havia na sala da casa, e que servia de berço para os fihos recém- nascidos. Esse balaio era amarrado com um cipó à travessa da casa, peça de madeira que ficava escorada à parede. Quando passávamos pela sala, não podíamos balançar o balaio vazio. Se assim o fizéssemos, quando a criança fosse ali colocada, teria dor de barriga, conforme dizia a Dona Inhá, esposa do Zé.

Mais tarde, o Zé Pinheiro passou a ser tratador de porcos e fazer os serviços do terreiro da fazenda. Como era muito religioso, em tudo colocava o nome de Deus. Se abrisse uma torneira, não a fechava, pois dizia que Deus não deixaria faltar água.

Devoto ardoroso de Santo Antônio, quando ia a Calambau e passava em frente à Igreja, não dava as costas para o padroeiro, cuja imagem ficava entre as duas torres. Andava de lado, sempre invocando o nome do santo.

Eleitor e admirador do Prefeito Antônio Quintão Carneiro, Ninico Carneiro, homenageava a ambos com a rima: “Viva Antônio Quintão Carneiro e Santo Antônio, nosso padroeiro!”.

Logo que apareceu a loteria esportiva, um rapaz, de Calambau, aproveitando a vinda do Zé à cidade, resolveu fazer um jogo com os palpites do Zé Pinheiro, lhe perguntando: - Quem vai ganhar, Flamengo ou Santos? O Zé respondia:- Santos. - Santa Cruz ou Atlético? Santa Cruz era a resposta do Zé Pinheiro. Ele só apontava como vencedor, o time que tivesse nome de santo. Resultado: o apostador não passou dos cinco pontos...

Zé Pinheiro e sua família moraram, por muito tempo, na fazenda Baía e, quando os meus pais se mudaram para a cidade, o Zé Pinheiro, por ser de plena confiança deles, morou por algum tempo na sede da fazenda, com sua família.

Zé Pinheiro foi um trabalhador dedicado que marcou presença em nossa fazenda.